Aliados do Ocidente avançam em novo mapa comercial global, isolando os EUA após tarifas de Trump
- Iranildo R. Deiró
- 13 de jul.
- 4 min de leitura
A retomada de uma postura agressivamente protecionista por parte do presidente Donald Trump reacendeu tensões comerciais com importantes aliados dos EUA e acelerou os movimentos globais em busca de alternativas. No centro desse cenário, alianças antigas passaram a pavimentar um novo mapa comercial, muitas vezes sem os Estados Unidos como protagonista.
🔻 O novo pacote tarifário: uma escalada real
Em 12 de julho de 2025, Trump anunciou que a partir de 1º de agosto de 2025 imporá tarifas de 30% sobre importações da União Europeia e do México. Paralelamente, cartas foram enviadas a outros 23 países, incluindo Brasil, Canadá e Japão, com taxas previstas entre 20% e 50%, destacando uma tarifa de 50% sobre o cobre.
Além disso, há uma proposta de tarifa de 200% sobre produtos farmacêuticos importados, embora sua aplicação efetiva inclua um período de carência até 2027 ou 2028, incentivando reshoring industrial Wall Street Journal.
Kevin Hassett, do Conselho Econômico Nacional dos EUA, reforçou que as tarifas são “reais” e fazem parte de uma estratégia de segurança econômica e nacional.
Desde 5 de abril de 2025, Trump já havia estabelecido uma tarifa mínima de 10% sobre todos os países, ativada sob o IEEPA (Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional), com tarifas específicas mais altas dirigidas a países com déficits comerciais, vigentes a partir de abril e adiadas até 1º de agosto em muitos casos The White House.
Organismos econômicos estimam que as tarifas elevarão a arrecadação federal em US$156 bilhões em 2025, equivalendo a cerca de 0,5% do PIB — a maior alta fiscal desde 1993 Tax Foundation.
🌐 Nova ordem comercial: descentralização acelerada
A postura unilateral dos EUA motivou países tradicionalmente alinhados a buscar novas formas de cooperação e integração, moldando um novo tabuleiro comercial global.
🔹 CPTPP ganha força como alternativa
O CPTPP (Acordo Abrangente e Progressivo para Parceria Transpacífica) segue como a principal resposta à ausência dos EUA. Desde a entrada do Reino Unido em dezembro de 2024, o bloco consolidou-se como uma plataforma robusta de comércio livre entre economias da Ásia-Pacífico e Europa .
Revistas recentes mencionam que representantes do CPTPP reafirmaram em maio de 2025, em Jeju (Coréia do Sul), o compromisso com comércio transparente, o acompanhamento do processo de ingresso da Costa Rica e o diálogo comercial com a UE e ASEAN. Esses sinais indicam que o bloco está preparado para servir como eixo alternativo de integração econômica.
🔹 UE reforça parceria com a Ásia
Em 13 de julho, a UE e a Indonésia anunciaram um acordo político para avançar na conclusão de um Acordo de Parceria Econômica Abrangente (CEPA), com expectativa de assinatura até setembro .
Negociações bilaterais com Malásia, Filipinas e Tailândia também foram retomadas ao longo de 2025, reforçando a estratégia de diversificação da UE para além dos EUA .
🔹 UE avalia adesão ao CPTPP como estratégia macro
Relatos recentes indicam que líderes europeus, como da Suécia, propõem que a União Europeia se una formalmente ao CPTPP, criando talvez a maior zona de comércio livre global Yahoo Finanças.
A abordagem “Goodbye Trump, hello Asia” — defendida por Ursula von der Leyen — resume a nova visão europeia diante da imprevisibilidade comercial americana.
🌎 Brasil e América Latina: entre desafios e oportunidades
Para a América Latina, especialmente o Brasil, o momento exige decisões estratégicas diante da crise econômica global.
📈 Oportunidades
Com a ameaça de tarifas contra o Brasil — 50% sobre todos os produtos a partir de 1º de agosto — e resposta do governo Lula prometendo tarifas similares sobre produtos americanos, cabe ao Brasil fortalecer sua diplomacia comercial e atrair investimentos em infraestruturas sustentáveis.
Países asiáticos e europeus buscam segurança alimentar, energia limpa e minerais estratégicos, setores em que o Brasil pode se posicionar eficazmente, desde que demonstrando estabilidade regulatória e compromisso com ESG.
⚠️ Riscos
O Mercosul ainda não conseguiu avançar em seu acordo com a UE, paralisado por impasses ambientais e protecionistas. Isso fragiliza o posicionamento de toda a região em blocos como CPTPP ou Aliança do Pacífico.
México, Chile e Colômbia expandiram seus laços comerciais com o bloco transpacífico, deixando o Brasil em desvantagem caso não articule sua inserção estratégica.
Os EUA no espelho em 2025: isolamento ou reinvenção?
A nova política tarifária de Trump sinaliza uma ruptura do modelo multilateral que vigorou nas últimas décadas. No entanto, a imposição de tarifas extremas, inclusive até 200% sobre remédios importados, e 50% sobre o cobre, tem gerado críticas internas e legais.
Em maio de 2025, a Corte de Comércio Internacional dos EUA declarou inválidas as tarifas impostas sob emergência econômica (IEEPA), considerando que excederam a autoridade presidencial e que não se tratava de uma ameaça extraordinária.
Mesmo assim, a administração Trump manteve as medidas em vigor, o que gerou tensões legais e incerteza nos mercados. Economistas alertam que a combinação de tarifas voláteis e insegurança jurídica pode frear crescimento econômico, elevar a inflação e enfraquecer a confiança dos investidores .
Ainda assim, o mercado continua resiliente — o S&P 500 recuperou 26% desde a queda de abril, com investidores acreditando que os extremos nas ameaças tarifárias podem não se concretizar totalmente washingtonpost.com.
🧭 Conclusão: o futuro do comércio global em transformação
Estamos diante de uma forte redefinição das alianças e estratégias comerciais globais. A escalada tarifária americana de Trump, declarada com vigor, acelerou o desenho de redes paralelas — baseadas em acordos regionais e pragmáticos — lideradas pela UE, Ásia e blocos transpacíficos.
O mundo está passando por uma fase crítica de descentralização: os EUA podem até reforçar sua indústria interna, mas deslizam para uma posição mais limitada na regulação das normas globais. Por outro lado, países e blocos com capacidade de cooperação pragmática, diversificação de parceiros e compromisso com sustentabilidade têm ganhado protagonismo.
O tempo urge. Cada governo que souber se mover com estratégia, diálogo comercial e inovação tecnológica poderá se posicionar de forma vantajosa nesse novo capítulo do comércio mundial — onde os EUA passam de epicentro a possível ponto de ruptura.
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