Advogado de Garnier elogia Moraes e Bolsonaro e afirma que até ofereceria cigarro ao ex-presidente
- Iranildo R. Deiró

- 3 de set.
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Durante julgamento do golpe, Demóstenes Torres cumprimenta ministros do STF e afirma que Flávio Dino tem potencial para ser presidente da República

Nesta terça-feira, 2 de setembro de 2025, durante o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura a tentativa de golpe de Estado, o advogado Demóstenes Torres — defensor do almirante Almir Garnier — fez declarações inesperadas e carregadas de simbologia política.
Com um tom descontraído, Torres afirmou que nutre admiração tanto pelo ministro Alexandre de Moraes quanto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, chegando a dizer que, se necessário, “levaria cigarro para ele em qualquer lugar”, uma referência simbólica à lealdade e apoio ao ex-chefe do Executivo.
Admiração por Moraes e Bolsonaro
Torres declarou estar em uma posição singular no país ao afirmar ser "a única pessoa no Brasil" que gosta dos dois — Moraes e Bolsonaro — simultaneamente. Em meio à sustentação oral em defesa de Garnier, o advogado compartilhou uma anedota de um encontro com Bolsonaro em um aeroporto.
Segundo a narrativa, o ex-presidente, ao vê-lo, correu para cumprimentá-lo efusivamente, dizendo: "Senador, para mim não aconteceu nada." Esse momento simbólico levou Torres a frisar sua disposição em apoiar Bolsonaro, caso solicitado — inclusive com a promessa de “levar cigarro”.
Apesar do tom de intimidade com Bolsonaro, Torres também elogiou o ministro Alexandre de Moraes. Isso reforça uma imagem de independência do defensor, que tenta, no contexto do julgamento, navegar entre correntes políticas antagônicas com leveza e ironia.
Flávio Dino como futuro presidente?
Não bastasse a declaração sobre Bolsonaro e Moraes, o advogado também fez elogios ao ministro Flávio Dino, afirmando que, entre os três poderes, ele já ocupou dois — Judiciário e Legislativo — e poderia, no futuro, vir a ocupar também o Executivo. “Vossa excelência, talvez, ocupando os três postos mais importantes...
No Executivo, só lhe faltou a Presidência da República, mas é muito jovem ainda — quem sabe esse dia ainda não chega”, afirmou Torres. A fala ocorreu enquanto cumprimentava ministros da Primeira Turma antes de iniciar sua sustentação oral.
Contexto do julgamento
O contexto dessas declarações é o julgamento do chamado núcleo militar da trama golpista, em que o STF investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Almir Garnier figura como réu acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de participar de articulações que incluíam tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa armada.
Demóstenes Torres utilizou parte de sua fala – cerca de 20% do tempo de uma hora — para elogiar ministros do STF, numa estratégia que talvez vise desarmar o ambiente adversarial ou, ao menos, humanizar sua defesa em meio às acusações graves.
O advogado: trajetória e influências
Demóstenes Lázaro Xavier Torres é jurista, ex-promotor, ex-senador por Goiás (2003–2012) e teve seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar. Após deixar a política em 2012, retomou a advocacia e desde março de 2025 defende Almir Garnier no STF, tendo se tornado figura comentada nas redes sociais durante a transmissão do julgamento.
Durante sua atividade legislativa, Torres chegou a relatar projetos de lei e atuar em comissões relevantes, incluindo a relatoria da Lei da Ficha Limpa no Senado. No entanto, sua trajetória política foi marcada por controvérsias, em especial sua proximidade com o contraventor Carlinhos Cachoeira, denúncias que levaram à cassação.
Reação pública e repercussão
As falas do advogado repercutiram rapidamente na mídia e nas redes sociais. Alguns veículos ressaltaram o caráter inusitado das declarações, como a promessa de levar cigarro a Bolsonaro e os elogios a ministros do STF.
Para analistas, o discurso pode ser interpretado como uma tentativa estratégica de aproximação com diferentes atores do julgamento — uma defesa que não se ancora apenas no direito, mas também no capital simbólico.
Além disso, ao sugerir que Flávio Dino pode vir a ser presidente da República, o advogado insere uma pitada de política no ambiente jurídico, o que intensifica a curiosidade sobre possíveis repercussões futuras dessa declaração.
Flávio Dino, ministro do STF desde 2023 e ex-governador do Maranhão, representa uma figura de destaque e com potencial futuríssimo em esfera política.
Expectativas para os próximos dias
O julgamento deve se estender por cinco dias — 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro — com previsões de votos do relator, ministro Alexandre de Moraes, apenas na sessão do dia 9. As defesas dos demais réus também terão espaço, com destaque para Bolsonaro, Garnier, Heleno, Paulo Sérgio, Braga Netto e outros.
À medida que o processo avança, o papel performático de advogados como Torres — que combinam estratégia jurídica com simbolismo — pode assumir ainda maior importância.
A defesa do almirante Garnier tentará mostrar ausência de provas concretas que o vinculem diretamente à trama golpista, enquanto a PGR, por meio do procurador Gonet, sustenta que os réus participaram ativamente de um plano autoritário com ramificações práticas nas Forças Armadas.
Conclusão
O julgamento de Almir Garnier no STF traz à tona não apenas questões jurídicas gravíssimas, mas também maneirismos de retórica e simbolismo político.
As declarações de Demóstenes Torres — elogios simultâneos a Moraes e Bolsonaro, promessa de “levar cigarro” ao ex-presidente e sugestão de Flávio Dino como futuro presidente — revelam uma defesa que envereda por cenários além da petição formal.
Fique atento: o desenrolar desse julgamento nos próximos dias pode trazer ainda mais episódios simbólicos e decisões de grande impacto institucional.







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